MST é expulso de propriedade e acampados se alojam em ginásio

Um grupo invadiu o acampamento Hugo Chaves, do Movimento Sem Terra (MST), que fica às margens da RO-140, em Cacaulândia (RO), no Vale do Jamari, e expulsou as pessoas do local com tiros de arma de fogo, na tarde de segunda-feira (4). O G1 divulgou um atentado ao local ocorrido no último sábado (2), quando três integrantes do movimento ficaram feridos. No acampamento, haviam cerca de 300 pessoas entre homens, mulheres, idosos e crianças, que deixaram o local às pressas e foram alojados no Ginásio de Esportes Alberi Ferraço, na cidade vizinha, em Ariquemes (RO).

Ao G1, o coordenador do acampamento, Claudio Pereira, informou que grupo armado que aterrorizou os acampados é o mesmo do último sábado, e a intenção deles era amedrontar as pessoas do local e expulsá-las da terra. "Saímos devido a muita repressão e o acampamento do MST é composto por famílias. Não poderíamos colocar a vida delas em risco, por isso a decisão tomada foi sair de lá o quanto antes", apontou.

O coordenador atestou ainda que o local do acampamento é uma área da união, e outra parte cedida por um sitiante da região. As famílias estão no local há quase três anos, e segundo o coordenador não há intenção de invadir terras. Ele afirmou ainda que os acampados estão pleiteando uma terra junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), de forma regular. "O movimento MST faz discussões com as pessoas que têm vontade de ser proprietário de terra, faz aglomeração de famílias, e vai com pauta de discussões junto ao o Incra para fazer o assentamento", explicou.

Alojamento provisório
Pereira destacou também que o ginásio onde estão alojados não comporta quantidade de pessoas no local. Ele disse que serão realizadas reuniões com autoridades e o Incra para discutir a situação. "Estamos preocupados porque o espaço não comporta, e vamos realizar reuniões para tratar isso, e também para garantir a alimentação das pessoas, para terem o mínimo de humanidade", disse.

O casal de idosos, Maria Pinheiro, de 62 anos e Jorge Ribeiro, de 77 anos contam os momentos de terror que viveram durante o ataque. "Quando ouvi os tiros corri com meu marido pra mata, e fiquei muito assustada, porque se viessem atrás de nós nos alcançaria primeiro porque somos mais lentos", relembrou.

Outra integrante do movimento, que preferiu não se identificar, disse que estava no acampamento há dois anos, com o marido e o filho de apenas 3 anos de idade. Ela conta que o esposo trabalhava nas fazendas da região, e apesar da precariedade do local, eles tinham uma vida tranquila, que teria sido abalada após a invasão do grupo armado no último sábado.

"No fim de semana teve um atentado, e sai correndo com meu filho para a mata fechada, e ontem novamente fomos pegos de surpresa. Eles atiraram pra todos os lados e foi por Deus que não acertou ninguém. Estou com muito medo, mas creio que vão nos assentar e vou viver feliz com minha família na nossa terra", declarou.

A Ouvidoria Agrária do Incra informou que está prestando apoio aos acampados, e que será realizada uma reunião para discutir a situação dos sem terra, marcada para esta quarta-feira (6), no prédio do Incra em Ariquemes.

O ataque
Três moradores do acampamento afirmaram terem sido vítimas de agressão por jagunços armados de uma propriedade próxima ao local no último sábado (2). Eles alegam que um grupo de cinco homens chegaram em um carro, invadiram o acampamento e iniciaram os atos de vandalismo e agressão.

Na manhã desta segunda-feira (4) as vítimas foram solicitadas a realizarem o exame de corpo de delito na sede do Instituto Médico Legal, em Ariquemes (RO).

O ataque aos acampados foi registrado na Delegacia de Polícia Civil de Ariquemes, que investiga o caso.

Do G1 Ariquemes e Vale do Jamari