DESENTORTANDO O QUE ERA TORTO

Eis o que tão-somente achei:que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias. Eclesiastes 7:29.

O que aconteceu com o ser humano? Foi criado reto, num lugar perfeito, em intimidade pessoal com a Trindade, mas algo não deu certo. Afinal de contas - o que deu errado? Quais são essas astúcias que o Adão coletivo se meteu?

A Trindade não fez um robô, mas uma pessoa com todas as faculdades que expressam a liberdade pessoal. A pessoa, para ser pessoa, precisa portar inteligência, ter emoções e exercer vontade. Essa pessoa não é uma máquina programada e previsível.

Por outro lado, a vontade humana não é soberana; encontrara-se limitada e influenciada pelas outras faculdades finitas da criatura. Não há uma vontade absoluta nas crias; não há decisões sem relatividade. A vontade da criatura finita exige, antes de tudo, para ser adequada, conformar-se com a expressão da vontade absoluta do seu Criador.

A perfeita vontade de um ser finito precisa, necessariamente, para poder se expressar com adequação, unir-se à vontade absoluta do Seu Criador. Caso uma criatura limitada queira agir sem restrições, poderá cair em complicações. Exemplo simples: a liberdade do peixe é nadar e a legítima liberdade de Adão era fazer a vontade de Deus.

Mas, fazer a vontade de Deus por obrigação ou de má vontade, isto não é, de modo nenhum, liberdade. Ainda que liberdade só seja livre se fizer o que for de acordo com a perfeita vontade de Deus, mesmo assim, ninguém poderá fazê-la por puro dever.

O Criador fez a Sua criatura livre, todavia, contigente; embora, com aptidão para decidir, até mesmo contra a vontade do Criador, a criatura não é computador; é ser humano. Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.Gênesis 2:7.

Adão foi formado com uma natureza terrena humana livre e perfeita. Ele era reto, justo e sem qualquer contaminação do pecado. Mas, por causa de sua vontade, ele não se conformou em ser como homem e quis ser como Deus. Então, aconteceu a queda.

Sem liberdade e escolha não há responsabilidade. E o Eterno ordenou ao Homem: - Você tem permissão para comer de qualquer árvore do jardim, menos da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Dessa, não poderá comer. No mesmo momento em que comer dessa árvore, você morrerá. Gênesis 2:17.

Aqui, nesse âmbito, houve uma catástrofe cósmica que poluiu toda a matéria e contaminou a criação com o envelhecimento dos átomos e a morte das células. Alguém, interpretando as palavras de Jesus sobre o "ladrão", disse: "o universo ficou sujeito ao roubo da energia; a vida contida pela morte e as coisas ficaram propensas à destruição".

E agora? Aquilo que é torto não se pode endireitar; e o que falta não se pode calcular. Eclesiastes 1:15. Como cair fora desse beco sem saída? É aqui que nós precisamos considerar o projeto da redenção. O que é impossível ao homens é possível a Deus. Aquilo que não podemos fazer, a Trindade fez através de Cristo.

Adão foi feito reto e se entortou. Era barro limpo e se enlameou. Nós, porém, já nascemos portando a natureza terrena torta e o velho ego contaminado com o vírus do pecado. Fazemos parte de uma raça caída e lamacenta. Somos tortos e pecadores.

Cristo teve que entrar na raça caída para nos desentortar. Só o Deus homem poderia salvar o ser humano de sua mania de querer ser como Deus. Então, Cristo vem e assume a natureza terrena torta, através do óvulo da mulher. Ele não era um pecador.

A encarnação do Verbo tem a ver com essa profecia:Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. Gênesis 3:15. Jesus é uma fecundação da Palavra de Deus com o óvulo da mulher. Ele tem uma natureza terrena caída, mas não é portador do velho homem, o servo do pecado, transmitido pelo espermatozóide adâmico.

Cristo é Deus. Jesus é homem sem pecado, embora, um homem encarnado na matéria sob os efeitos do pecado. Ele não tinha o velho homem, porém, encontrava-se sob os traços de um corpo sujeito ao pecado. Ele foi tentado em todas as coisas à nossa semelhança, mas nunca pecou. Jesus não tinha o servo do pecado agindo em si mesmo.

Jesus não viveu dependendo de sua natureza Divina. Viveu pela fé no Pai. Jesus finalmente se explicou: - Digo a verdade para vocês. O Filho não pode fazer algo de forma independente, mas apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho faz. O Pai ama o Filho e o inclui em todos os seus planos. João 5:20.

A fim de salvar o ser humano dessa mania excitante de querer ser como se fosse Deus, Deus, em Cristo, se fez homem, para, confiando em Deus, o Pai, redimir o ser humano caído. Para que entendessem, Jesus disse: Quando vocês levantarem na cruz o Filho do Homem, então vão saber que Eu sou quem Eu Sou e que não estou inventando nada, mas falando apenas aquilo que o Pai me comunicou. Eu dependo totalmente do Pai para fazer a sua vontade. João 8:29.

Jesus, como um ser humano sem pecado, precisava assumir de fato o velho homem dos pecadores eleitos e crucificá-lo juntamente com Ele. Era necessária a morte do ego ensoberbecido, que governa a alma adâmica caída, na mesma cruz com Cristo.

Uma vez morto o velho homem, e imputada a vida de Cristo na ressurreição, a nova criatura pode fazer morrer sua natureza terrena sujeita ao pecado. O velho homem morreu na cruz, mas a natureza terrena é morta, dia a dia, ao levar-se o morrer de Jesus.

Jesus tinha uma natureza terrena sujeita ao pecado, mas nunca pecou, pois dependeu 100% do poder do Pai. Ele não tinha o velho homem, o servo do pecado, mas, morreu levando o nosso velho homem juntamente com Ele, para poder nos salvar de toda a condenação do pecado e nos habilitar, pela Sua vida, a mortificar a natureza terrena.

Jesus possuía uma natureza terrena semelhante à nossa. Mas não tinha o velho homem igual ao nosso. Ele estava sujeito às tentações e podia pecar. Todavia Ele nunca pecou, porquanto dependia constantemente da graça e do poder do Pai.

Nós nascemos com a natureza terrena caída e com o velho homem servo do pecado. Nós sempre pecamos porque somos pecadores. Mas, Jesus crucificou com Ele o nosso velho homem, livrando-nos da escravatura do pecado. Contudo, ainda possuímos a natureza terrena caída sujeita às tentações e ao pecado.

Nós precisamos entender: a natureza terrena veio antes do velho homem. O primeiro homem, Adão, foi criado com sua natureza terrena sem pecado. Sua natureza na criação era pura, mas por causa do seu desejo de ser como Deus, ele pecou e passou a ter um velho homem viciado pelo pecado e uma natureza terrena sujeita ao pecado.

Vou procurar ser bem didático. Antes de Adão pecar ele tinha sua natureza terrena incontaminada, todavia, pecou. E como o pecado surgiu? Veja o que diz Tiago.

Ninguém que esteja passando por lutas pode ter a cara de pau de dizer: É Deus que está me tentando. Deus não tem nada a ver com isso, e ele nunca põe o mal no caminho de ninguém. Ceder à tentação é decisão nossa. Culpar a Deus por isso é malandragem! A tentação nasce dos impulsos incontroláveis dentro de nós. Se cedermos a esses impulsos, logo o pecado mostrará sua cara cruel. E, quando o pecado toma conta da situação, o resultado é a morte. Tiago 1:15.

Adão não pecou por ser um pecador; pecou por ter uma natureza que podia pecar, ainda que não fosse pecadora. A partir do pecado, sua natureza caiu da posição de pureza e ele passou a ter também aquilo que a Bíblia chama de velho homem.

Nós nascemos com a natureza caída sujeita ao pecado e o velho homem, o servo do pecado. Nós vivemos às custas do pecado. Porém, Cristo Jesus deu a Sua vida em favor de muitos, para que esses fossem libertos da tirania do pecado.

Veja o que diz o profeta Isaias. Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque os pecados deles levará sobre si. Isaías 53:11.

Mas Ele não levou só os pecados, plural; levou também a iniquidade: Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Isaías 53:6.

Os muitos, pelos quais o Senhor deu a Sua vida, tiveram o seu velho homem crucificado com Ele. Entretanto, a natureza terrena de nenhum de nós foi morta na cruz com Cristo. Não há base bíblica para dizermos que a natureza terrena tenha sido crucificada juntamente com Cristo. Contudo, os filhos de Deus podem mortificá-la.

Reafirmando: Adão tinha a sua natureza terrena incontaminada, entretanto, contaminou-a por meio do seu pecado. Tornou-se, ainda, um pecador, escravo do pecado, através do seu velho homem. Sua natureza era caída e seu velho homem vivia de pecar. Assim ele transmitiu essa vil herança à sua raça, que tornou-se pecadora por natureza.

Cristo encarnou-se na raça adâmica através da mulher. Ele tinha a natureza terrena sob os efeitos da queda, mas não possuía o velho homem, o escravo do pecado, procedente direto do esperma de Adão. Ele viveu aqui na terra sendo tentado, mas nunca pecou. Todavia, na cruz, Ele levou sobre si, não só os pecados dos eleitos, mas também o velho homem destes que Ele veio buscar e salvar.

Se o nosso velho homem foi crucificado com Cristo, como diz a Escritura, os salvos pela graça, ainda que possuam uma natureza caída sujeita ao pecado, podem, por meio do poder do Espírito Santo, mortificar os feitos da carne.

O que era totalmente impossível ao ser humano, desentortar o que era torto, foi perfeitamente possível à Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo assumiram a causa da redenção dos Seus, de tal maneira, que a injustiça humana foi inteiramente satisfeita pela justiça de Cristo e a retidão Divina foi imputada aos filhos de Deus, pela graça. Se não entendermos isso, não entendemos nada até aqui. Ponto!

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